Os
brasileiros passaram a consumir mais cigarro durante a pandemia da Covid-19. De
acordo com pesquisa da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), feita em parceria com a
Universidade Federal de Minas Gerais e da Universidade Estadual de Campinas,
cerca de 34% dos que se declararam fumantes passaram a consumir mais cigarros
por dia durante o período de isolamento social.
Os fumantes
também podem ficar ainda mais expostos ao contágio pelo coronavírus, já que o
constante manuseio do cigarro com as mãos e o possível contato com a boca, além
da necessidade de tirar a máscara para fumar, podem aumentar a possibilidade de
contágio pelo vírus. Além disso, o estudo publicado no dia 29 de dezembro pelo
periódico Thorax, com mais de 2,4 milhões de participantes no Reino Unido,
indica que os fumantes eram 14% mais propensos a terem sintomas clássicos e
evidentes da Covid-19 (tosse persistente, falta de ar e febre) do que os não
fumantes.
Diante desse
número preocupante, campanhas de conscientização sobre os riscos do cigarro e do
tabagismo para a saúde, principalmente durante a pandemia, passaram a ganhar
mais relevância e devem pautar o Dia Mundial do Combate ao Fumo, celebrado
nesta segunda-feira (31). No Brasil, de acordo com o Instituto Nacional de
Câncer José Alencar Gomes da Silva (INCA), cerca de 443 pessoas morrem por dia
por causa do tabagismo.
A
pneumologista Fernanda Miranda, alerta que não existe alternativa saudável para
a prática do tabagismo. “Os cigarros eletrônicos, que são apresentados como uma
alternativa ao fumo, são também compostos por nicotina e causam dependência da
mesma maneira. Outro que pode ser tão ou até mais prejudicial para a saúde é o
narguilé. Cada sessão deste instrumento corresponde a 100 cigarros fumados”,
detalha. Além disso, o compartilhamento de narguilés é um fator muito
preocupante, pois também pode contribuir para a disseminação do vírus.
A
pneumologista alerta que o cigarro pode causar mais de 50 doenças e, do ponto
de vista pulmonar, a doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) e o câncer de
pulmão são as mais frequentes. Esta última neoplasia teve a terceira maior
incidência entre homens em 2020, segundo o INCA, com quase 18 mil ocorrências
(7,9% dos novos casos) e foi a quarta com mais incidência entre as mulheres,
com mais 12 mil casos (5,6%).
Combate ao
tabagismo
De acordo
com a pneumologista, apesar das campanhas e das restrições impostas aos
fumantes, principalmente em espaços públicos, ainda há pessoas que começam a
fumar por curiosidade, principalmente aos mais jovens. “Depois disso, muitos
fumantes encontram dificuldades em parar de fumar pelo fato de a nicotina ser
uma droga com alto poder de levar à dependência química. Ela atua no cérebro e
quanto mais se usa, mais difícil é de se deixar o vício”, destaca a
especialista.
Ações feitas
pelo Ministério da Saúde têm contribuído para o controle em relação ao fumo.
Uma delas é o Programa Nacional de Controle do Tabagismo (PNCT), por meio do
INCA, que busca reduzir a prevalência de fumantes e a mortalidade relacionada
ao uso de tabaco por meio de ações educativas e de atenção à saúde. Segundo
Miranda, essas ações são importantes para que o país continue sua busca por
reduzir ainda mais os números relacionados ao tabagismo.
Ela ainda
ressalta que a ajuda multiprofissional formada por médicos e terapeutas pode
ser eficaz para o tratamento contra o fumo. “O suporte psicológico, terapia
cognitivo comportamental e tratamento medicamentoso são importantes aliados no
tratamento do tabagismo”, destaca Miranda. |